Gregório de Matos

Gregório de Matos - poeta do Barroco brasileiro

Gregório de Matos


Gregório de Matos e Guerra (1636–1695), conhecido como “Boca do Inferno”, foi o principal poeta do período Barroco no Brasil. Sua obra, marcada por sátiras, líricas amorosas e poesias religiosas, oferece um retrato da sociedade baiana do século XVII.

Curta biografia

Gregório de Matos e Guerra nasceu em Salvador, então capital do Estado do Brasil, em dezembro de 1636. Era de uma família pertencente à elite açucareira baiana, proprietária de engenhos e integrada à administração colonial. Recebeu a educação inicial no Colégio dos Jesuítas de Salvador, instituição central no sistema educacional luso-brasileiro do século XVII.

Em meados da década de 1650 partiu para Portugal, onde ingressou na Universidade de Coimbra. Ali concluiu, por volta de 1661, a licenciatura em Direito Canônico - muitas fontes mencionam também o Direito Civil. Durante sua permanência em Portugal, exerceu atividades jurídicas e desempenhou funções ligadas à administração judicial em diferentes localidades, embora a natureza exata de alguns desses cargos seja matéria de debate.

Entre 1679 e 1681, Gregório retornou ao Brasil e se estabeleceu novamente em Salvador. Na Bahia, manteve vínculos com a administração local e chegou a ocupar funções relacionadas ao âmbito eclesiástico, mas acabou afastado por não completar as ordens maiores. Conviveu com os conflitos e desigualdades que marcavam a Salvador setecentista - cenário que nutriria sua produção literária.

Sua obra, preservada principalmente por códices manuscritos setecentistas e por edições críticas modernas, divide-se entre a lírica amorosa, a poesia religiosa e, sobretudo, a sátira. As composições satíricas, que atacavam costumes, vícios, corrupção administrativa, práticas do clero e hipocrisia da elite, fizeram dele figura contundente do Barroco brasileiro.

As sátiras deram origem ao célebre apelido “Boca do Inferno”. Por causa delas, Gregório acumulou inimigos influentes, o que resultou em medidas punitivas e, por fim, em degredo para Luanda, em Angola. Lá permaneceu por certo período, retornando posteriormente ao Brasil, fixando-se no Recife, onde morreu entre 1695 e 1696 - datas que variam conforme as fontes.

Obra e poemas

Gregório de Matos publicou nenhum livro durante a vida. Seus poemas circulavam oralmente ou em manuscritos.

Poemas

A uma mulata | A Catona | Redargue | Julga | À uma moça chamada Tereza | À sogra de Gonçalo Dias | À duas moças pardasÀ uma moça por nome Bárbara | A umas moças | No Boqueirão | Ao braço forte | Verdades | Reprovações | Benze-se | No dia em que fazia anos dona ângela | Aos principais da Bahia chamados caramurus | A certo homem que afetava fidalguia por enganosos meios | A um sujeito que lhe mandou um peru cego e doente | A outra dama que gostava de o ver mijar | Despedida a uma dama que se ausentava | É meu damo tanto meu | Pondera com mais atenção a formosura de d. ângela | Admirável expressão de amor | Décima | A um livreiro que comeu um canteiro de alfaces | A uma dama que lhe pediu um craveiro | Novas do mundo | A morte de Afonso Barboza da Franco | Disparates na língua brasílica | As mulatas do Brasil bailam o paturi | Festejo do Entrudo | Sem título | Uma graciosa mulata filha de Ouiba | Queria primeiro se lavar | Desdéns seguem como sombras | Coração, que em pretender | Chora um bem perdido | A inconstância dos bens do mundo | Tentado a viver na solidão | Foi esta dama vista pelo poeta certa manhã | Ao dia do juízo | Ao mesmo assunto | E pois cronista sou | A certo frade na Vila de São Francisco | Ao padre Damaso com presunções de sábio e engenhoso | Ao Cura da Sé | Aos capitulares do seu tempo | A fome que houve na Bahia | Soneto | As coisas do mundo | À cidade da Bahia | A uma que lhe chamou Pica-Flor | 1º soneto a Mario dos Povos | A umas saudades

Para consultar

Edições digitais de suas obras estão disponíveis em:
Para aprofundar o estudo sobre Gregório de Matos:

Araújo, Ruy Magalhães de. Bibliografia crítica de Gregório de Mattos e Guerra (atualizada). Soletras, Ano IV, N° 07, 2004.
da Silva, J. P. (2005). O Barroco no Brasil Gregório de Matos e Vieira. Soletras, (9), 121-130.
da Silva, J. P. (2007). Gregório de Matos, o sagrado e o barroco. Soletras, (14), 162-176.
da Silva, F. L., & de Oliveira, A. L. M. (2015). Uma forma fixamente aberta: Introdução ao gênero da “Época Gregório de Matos”. Texto Poético, 11(19), 11-40.
Dantas, C. D. C., & Vieira, W. N. (2017). A Representação Feminina Na Poesia De Gregório De Matos. Festival Literário de Paulo Afonso, 3, 24-36.
Hansen, J. A. (1989). Positivo/Natural: sátira barroca e anatomia política. Estudos avançados, 3, 64-88.
Hernandez, Leila. A poesia de Gregório de Matos como documento histórico e social. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 44, 2014.
Marques, P. (2019). Gregório de Matos no ritmo das anáforas. Texto Poético, 15(28), 386-400.
Mittmann, A., & Maia, S. R. (2017). Análise comparativa entre escansões manual e automática dos versos de Gregório de Matos. Texto Digital, 13(1), 157-179.
Nogueira, C. M. (2011). A sátira de Gregório de Matos. Línguas & Letras, 12(23).
Pires, A. D. (1998). Personas gregorianas: a poesia de Gregório de Matos e as convenções retóricas. ITINERÁRIOS–Revista de Literatura.