Tentado a viver na solidão

Imagem de Gregório de Matos

Poema de Gregório de Matos



Ditoso tu que, na palhoça agreste,
Viveste moço e velho respiraste.
Berço foi em que moço te criaste.
Essa será que para morto ergueste.

Aí, do que ignoravas, aprendeste,
Aí, do que aprendeste, me ensinaste,
Que os desprezos do mundo, que alcançaste,
Armas são com que a vida defendeste.

Ditoso tu que, longe dos enganos
A que a Corte tributa rendimentos,
Tua vida dilatas e deleitas!

Nos palácios reais se encurtam anos;
Porém tu, sincopando os aposentos,
Mais te deleitas quando mais te estreitas.



Fonte: "Obra Poética", Editora Record, 1992.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.


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