Despedida a uma dama que se ausentava
Poema de Gregório de Matos
Já vos ides, ai, meu bem!
Já de mim vos ausentais?
Morrerei de saudades,
Se partis e me deixais.
É forçoso este argumento,
Tem conclusão infalível:
Ires vós e ficar eu,
Meu amor, com'é possível?
Meu amor, sem vós não sei
Como poderei ficar;
Se vós partis, morrerei
Ao rigor do meu pesar.
Esperai, detende o passo,
Que cada arranco que dais,
Sendo a vida da minha alma,
Alma e vida me levais.
Ó que rigoroso transe
E saudosa despedida!
Já sinto efeitos da morte
Com os efeitos da vida.
Lágrimas aljofaradas,
Como assim vos despenhais,
Sem atender tiranias,
Nem atender a meus ais.
Adeus, de mim muito amada,
Prenda que me dais mil dores!
Como mais não hei de ver-vos,
Adeus, adeus, meus amores.
Fonte: "Obra Poética", Editora Record, 1992.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.