À uma moça chamada Tereza

Imagem de Gregório de Matos

Poema de Gregório de Matos



Seres, Teresa, formosa,
Sendo trigueira, me espanta;
Pois, tendo beleza tanta,
És, sobre isso, milagrosa.
Como não serás espantosa,
Se o adágio me assegura
Que quem quiser formosura
Há de na alvura a ver?
E vós sois linda mulher
Contra o adágio da alvura.

Mas o nosso adágio mente,
E eu lhe acho a repugnância,
Pois a beleza é substância,
E a alvura é acidente.
Se na esfera tão luzente
Dessa cara prazenteira
O Sol, como por vidreira,
Se duplica retratado,
Sendo vós Sol duplicado,
Que importa seres trigueira?




Fonte: "Obra Poética", Tipografia Nacional, 1882.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.