A umas moças

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Poema de Gregório de Matos



Vamos cada dia à roça,
Se é que vai a camarada
Que ri e folga à francesa
E pinta à italiana.

Vamos e fiquemos lá
Um dia ou uma semana,
Que enquanto as gaitas se tocam,
Sabe a roça como gaitas.

Vamos à roça, inda que
Nos fique em tantas jornadas
Cada meia sem palmilha,
E sem sola cada alparca.

Vá, Mane, e vá, Marcela,
Vá toda a nossa prosápia,
Exceto a que por casar
Não põe pé fora de casa.

Case e tão casada fique
Que nem para fazer caca
Jamais o marido a deixe,
Nem se lhe tire da ilharga.

Case e, depois de casar-se,
Tanto gema e tanto paira
Que caia em meio das dores
Na razão das minhas pragas.

Case e tanto se arrependa
Como faz toda a que casa,
Que nem para descasar-se
A via da igreja saiba.

E nós vamos para a roça
Com nosso feixe de gaitas,
Até ver-me descasada,
Para me rir de quem casa.




Fonte: "Obra Poética", Tipografia Nacional, 1882.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.