A inconstância dos bens do mundo - Gregório de Matos

Imagem de Gregório de Matos, poeta do Barroco brasileiro

Poema de Gregório de Matos



Nasce o Sol, e não dura mais que um dia;
Depois da Luz se segue a noite escura;
Em tristes sombras morre a formosura;
Em contínuas tristezas, a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na Luz, falte a firmeza;
Na formosura, não se dê constância;
E na alegria, sinta-se tristeza.

Começa o mundo, enfim, pela ignorância,
E tem qualquer dos bens, por natureza,
A firmeza somente na inconstância.




Fonte: "Obra Poética", Editora Record, 1992.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.