A morte de Afonso Barboza da Franco
Poema de Gregório de Matos
Quem pudera, de pranto soçobrado,
Quem pudera, em choro submergido,
Dizer o que na vida te hei querido,
Contar o que na morte te hei chorado.
Só meu silêncio diga o meu cuidado,
Que explica mais que a voz de um afligido,
Porque na esfera curta de um sentido
Não cabe um sentimento dilatado.
Não choro, amigo, a tua avara sorte,
Choro a minha desgraça desmedida,
Que, em privar-me de ver-te, foi mais forte.
Tu, com tanta memória repetida,
Acharás nova vida em mãos da morte.
Eu, triste, nova morte às mãos da vida.
Fonte: "Obra Poética", Editora Record, 1992.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.