Manuel Bandeira
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira é um dos pilares da poesia brasileira, um dos principais representantes do modernismo.
Biografia
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu em Recife, Pernambuco, em 1886. Aos dez anos, transferiu-se com a família - que pertencia à elite local, sendo seu pai engenheiro civil - para a então capital federal, Rio de Janeiro. Cursou o secundário no externato do Ginásio Nacional (atual Colégio Pedro II), onde obteve o bacharelado em letras. Em 1903 a família mudou-se para a cidade de São Paulo, onde, sob influência do pai, Manuel matriculou-se na Escola Politécnica para o curso de engenharia-arquitetura.Durante as férias de final de ano, aos 18 anos de idade, caiu vítima da tuberculose, internando-se no Hospital dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro. Para lá a família se mudou em função da doença. Manuel abandonou os estudos, isolando-se socialmente. No começo de 1905, uma violenta crise o levou à beira da morte. Contra as previsões médicas, no entanto, seu quadro de saúde teve uma leve melhora, e o pai, ainda esperançoso, decidiu levá-lo para tratamento em Campanha, no sul de Minas Gerais.
Iniciava-se uma longa e exaustiva peregrinação em busca da cura. Privado, pela tuberculose, do rumo que a vida havia tomado até então, Manuel passou a estudar música, em especial o violão, e também literatura. Depois de Campanha, tratou-se, entre 1906 e 1913, em Teresópolis, Petrópolis, Itaipava, Juiz de Fora, Campos do Jordão e nos municípios de Maranguape, Uruquê e Quixeramobim, no Ceará, convivendo com a falta de ar e lidando com a solidão, como se fosse um estrangeiro no mundo.
Partiu para o sanatório de Cladavel, na Suíça, em 1913, após vencer o medo de morrer longe do pai durante uma noite em que, faltando-lhe o fôlego, achou que seria o fim, fechado pelas paredes do quarto sem a presença paterna. Mas não morreu - a morte, afinal de contas, era mais imprevisível do que supunha o jovem Manuel. Foi vivendo morre-não-morre, até que, em 1915, o médico lhe disse que dispunha de lesões pulmonares incompatíveis com a vida, e apesar disso se alimentava bem, dormia bem, estava livre da doença e poderia viver mais alguns anos, mesmo décadas.
Curou-se da tuberculose com profundas sequelas: cicatrizes no pulmão direito, o esquerdo convertido num bloco de fibrose, imprestável, onde o catarro se acumulava. Sofreria, portanto, de tosse e expectoração, que controlava por meio de uma rotina denominada de toalete brônquica: toda manhã, ele expectorava o máximo possível, esvaziando o catarro acumulado no pulmão esquerdo durante a noite.
Em 1915, com a Primeira Guerra Mundial em andamento, Manuel regressou ao Brasil. Um ano depois, a mãe faleceu. Em 1917, aos 31 anos, publicou o primeiro livro de poesia, "Cinzas das horas", quando se considerava praticamente um inválido, sem intenção de seguir uma carreira literária. O acolhimento ao livro o estimulou a continuar. Começou a escrever para periódicos da imprensa, atividade que exerceria até o fim da vida, incluindo crônicas, críticas de música, de literatura, de cinema e de artes plásticas.
O segundo livro de poesia, "Carnaval", veio em 1919, cuja maior liberdade de composição se marcava por traços modernistas. Após a morte da irmã, Manuel perdeu o pai em 1920, indo morar sozinho numa casa do bairro Santa Teresa. Travou amizade com o jornalista Ribeiro Couto, seu vizinho de bairro, que o apresentou à nova geração literária do Rio e de São Paulo.
Ao longo da próxima década, Manuel consolidaria sua posição de personagem central da poesia brasileira, publicando "Ritmo dissoluto" em 1924 e "Libertinagem" em 1930. Manuel realizou diversas viagens pelo país, visitando cidades históricas mineiras, as regiões nordeste e norte. Envolveu-se com o magistério, carreira que se consolidaria a partir de 1935, quando foi indicado inspetor de ensino secundário, progredindo, em 1938, para professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II e, quatro anos depois, professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade Nacional de Filosofia, cargo no qual se aposentaria em 1956.
Não foi a tuberculose a causa de sua morte; foi uma hemorragia gástrica, em 1968, quando Manuel contava longos 82 anos. Seu legado permanece como um dos pilares da poesia modernista e da literatura brasileira do século XX.
Obras e poemas
Do livro 'A cinza das horas', 1917Poemeto irônico | À beira d'água | Voz de fora | Inscrição | Desencanto | Epígrafe | Renúncia | Poemeto erótico | Chama e fumo
Do livro 'Carnaval', 1919
'Poesias (O ritmo dissoluto)', 1924
Do livro 'Libertinagem', 1930
O último poema | Poema de finados | O impossível carinho | Vou-me embora pra Pasárgada | Palinódia | Cabedelo | Na boca | Noturno da Parada Amorim | Madrigal tão engraçadinho | Andorinha | Oração a Teresinha do menino Jesus | Oração no Saco de Mangaratiba | Porquinho-da-Índia | Pensão familiar | Poética | Comentário musical | Camelôs | A Virgem Maria | Poema tirado de uma notícia de jornal | Pneumotórax | Belém do Pará | Não sei dançar | Profundamente | Teresa | O cacto | O Major | Lenda brasileira
Do livro 'Estrela da manhã', 1936
A estrela e o anjo | Declaração de amor | Conto Cruel | Tragédia brasileira | Sacha e o poeta | Oração a Nossa Senhora da Boa Morte | A filha do rei | O desmemoriado de Vigário Geral | O amor, a poesia, as viagens | Poema do beco | Flores murchas | Rondó dos cavalinhos | Trem de ferro | D. Janaína | Boca de forno | Balada das três mulheres do sabonete Araxá | Canção das duas Índias | Trucidaram o rio | Momento num café | Cantiga | Estrela da Manhã | Contrição
Do livro 'Lira dos cinquent’anos', 1940
Carta de Brasão | Pardalzinho | Piscina | Acalanto de John Talbot | Canção da Parada do Lucas | A estrela | Água-forte | Pousa a mão na minha testa | Velha chácara | Peregrinação | Testamento | Belo belo | Rondó do capitão | A morte absoluta | Soneto inglês n. 2 | Versos de Natal | Maçã | O martelo | Ouro Preto
Do livro 'Belo belo', 1948
Arte de amar | Belo belo (II) | Unidade | O rio | José Cláudio | Resposta a Vinicius | A realidade e a imagem | Neologismo | A Mário de Andrade ausente | Letra para uma valsa romântica | Improviso | Tema e voltas | Escusa | Poema só para Jaime Ovalle | Brisa
Do livro 'Opus 10', 1952
Noturno do Morro do Encanto | Visita | Uma face na escuridão | Poema encontrado por Thiago de Mello no Itinerário de Pasárgada | Oração para aviadores | Cântico dos cânticos | Lua nova | Consoada | Retrato | Boi morto | Os nomes
Do livro 'Estrela da tarde', 1963
Poema do mais triste maio | Nu | Irmã | Primeira canção do beco | A onda | Canção para a minha morte | Mascarada | Ponteio | Mal sem mudança | Poema da urgente primavera | Preparação para a morte | Lua | Satélite
Para consultar
Edições digitais de suas obras estão disponíveis na Biblioteca Brasiliana USP.
Para aprofundar o estudo sobre Manuel Bandeira:
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Campos, P. M. (1986). Manuel Bandeira fala de sua obra. Travessia, 5(13), 124-140.
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