Água-forte
Poema de Manuel Bandeira
O preto no branco,
O pente na pele:
Pássaro espalmado
No céu quase branco.
Em meio do pente,
A concha bivalve
Num mar de escarlata.
Concha, rosa ou tâmara?
No escuro recesso,
As fontes da vida
A sangrar inúteis
Por duas feridas.
Tudo bem oculto
Sob as aparências
Da água-forte simples:
De face, de flanco,
O preto no branco.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Lira dos Cinquent'anos", 1940.