Escusa

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Poema de Manuel Bandeira



Eurico Alves, poeta baiano,
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant'Ana.

Sou poeta da cidade.
Meus pulmões viraram máquinas inumanas e aprenderam a respirar o gás carbônico das salas de cinema.
Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B., que é assassino.
Há anos que não vejo romper o sol, que não lavo os olhos nas cores da madrugada.

Eurico Alves, poeta baiano,
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.



Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Belo Belo", 1948.

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