Oração a Nossa Senhora da Boa Morte

Imagem de Manuel Bandeira

Poema de Manuel Bandeira



Fiz tantos versos a Teresinha…
Versos tão tristes, nunca se viu!
Pedi-lhe coisas. O que eu pedia
Era tão pouco! Não era glória…
Nem era amores… Nem foi dinheiro…
Pedia apenas mais alegria:
Santa Teresa nunca me ouviu!

Para outras santas voltei os olhos.
Porém as santas são impassíveis
Como as mulheres que me enganaram.
Desenganei-me das outras santas
(Pedi a muitas, rezei a tantas)
Até que um dia me apresentaram
A Santa Rita dos Impossíveis.

Fui despachado de mãos vazias!
Dei volta ao mundo, tentei a sorte.
Nem alegrias mais peço agora,
Que eu sei o avesso das alegrias.
Tudo que viesse, viria tarde!
O que na vida procurei sempre,
- Meus impossíveis de Santa Rita, -
Dar-me-eis um dia, não é verdade?
Nossa Senhora da Boa Morte!




Fonte: "Libertinagem e Estrela da Manhã", Editora Nova Fronteira, 2000.
Originalmente publicado em: "Estrela da Manhã", 1936.