Versos de Natal - Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, maior poeta da primeira geração do modernismo brasileiro.

Poema de Manuel Bandeira



Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em por os seus chinelinhos atrás da porta.




Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Lira dos Cinquent'anos", 1940.