Desencanto - Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, maior poeta da primeira geração do modernismo brasileiro.

Poema de Manuel Bandeira



Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.




Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "A Cinza das Horas", 1917.