Na boca - Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, maior poeta da primeira geração do modernismo brasileiro.

Poema de Manuel Bandeira



Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados

Dorinha meu amor...
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro: - Na boca! Na boca!




Fonte: "Libertinagem e Estrela da Manhã", Editora Nova Fronteira, 2000.
Originalmente publicado em: "Libertinagem", 1930.