Boi morto

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Poema de Manuel Bandeira



Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Dividido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvores da paisagem calma,
Convosco - altas, tão marginais! -
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi descomedido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.



Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Opus 10", 1952.

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