Gilka Machado

Gilka Machado, poeta do Simbolismo brasileiro.

Gilka Machado

Poeta feminina do início do século vinte, Gilka Machado conquistou grande reconhecimento à época com uma poesia com traços do simbolismo e teor erótico.

Biografia

Gilka Machado nasceu em 1893, no Rio de Janeiro, filha de um pai boêmio e de uma mãe atriz de teatro e de rádio-teatro. Pertencia a uma família de artistas, poetas populares e músicos, vivendo em condições modestas. Estreou na literatura aos 14 anos, quando venceu um concurso de poemas do jornal carioca "A Imprensa", apresentando desde muito cedo temas de teor erótico - algo profundamente transgressor para a época e que se tornaria marca distintiva de sua obra.

Em 1910, participou da fundação do Partido Republicano Feminino, defendendo o direito das mulheres ao voto e engajando-se ativamente na luta pelos direitos civis femininos, o que a coloca entre as pioneiras do feminismo no Brasil. Gilka se casou com o poeta Rodolfo de Melo Machado e teve dois filhos. A convivência direta com o meio artístico e literário carioca reforçou sua inserção no circuito cultural da capital.

Publicou o primeiro livro em 1915, "Cristais Partidos", seguido por mais quatro livros de poesia até 1930: "Estados d’Alma" (1917), "Mulher Nua" (1922), "Meu Glorioso Pecado" (1928) e "Amores que mentiram, que passaram" (1928). Tornou-se a figura feminina mais importante do Simbolismo brasileiro tardio, sendo frequentemente comparada - pela ousadia temática e pela exploração do erotismo - aos poetas simbolistas franceses.

A recepção crítica variou entre o fascínio e a hostilidade. Fascínio frequentemente condescendente, que diminuía a qualidade estética de obras produzidas por mulheres. Hostilidade porque a escrita literária, sobretudo erótica, era vista como prerrogativa masculina.

Gilka perdeu o marido precocemente. Para sustentar a família, empregou-se como diarista na Estrada de Ferro Central do Brasil. Transformou a própria casa numa pensão para complementar a renda. Mantinha, ainda assim, intensa produção literária e participação em círculos culturais. Convidada por Jorge Amado para ser a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras, recusou o convite - decisão que se tornou um dos episódios mais comentados de sua biografia e que muitos interpretam como uma crítica à exclusão histórica das mulheres do meio literário institucionalizado.

Em 1979, recebeu da Academia Brasileira de Letras o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, reconhecimento tardio da importância de sua poesia para a literatura brasileira. Faleceu em 1980, aos 87 anos, no Rio de Janeiro, onde morava com a filha.

Obras e poemas

Cristais partidos, 1915

Meu glorioso pecado, 1928

O grande amor, 1928

Sublimação, 1938

Velha poesia, 1965

Para consultar

Edições digitais das obras de Gilka Machado estão disponíveis na Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos.

Para aprofundar o estudo sobre a poesia de Gilka Machado:

Borges, J. F. (2021). A liberdade política e artística em Gilka Machado: uma questão de autoria. Opiniães, (18), 94-115.
da Silveira Monteiro, G. L. (2011). Expressão infinita: um contato com os Cristais Partidos, de Gilka Machado. Revele: Revista Virtual dos Estudantes de Letras, 3, 350-369.
Dal Farra, M. L. (2014). Gilka, a maldita. Teresa: Revista De Literatura Brasileira, 15, 117-129. 
Gotlib, N. B. (2018). Revisitando Gilka Machado: poesia e crítica. Estudos Linguísticos e Literários, (59), 361-380.
da Veiga Silveira, S. M. (2021). Performances do feminino: o sujeito poético múltiplo de Gilka Machado. Interdisciplinar-Revista de Estudos em Língua e Literatura, 36, 69-82.
da Veiga Silveira, S. M. (2023). Corpo, feminino e desejo: a poesia moderna de Gilka Machado. Seda: Revista de Letras da Rural, 7(14).
de Araújo, L. C., & Venutto, A. (2023). A Semana de 22 e as escritoras modernistas: o erótico em" Mulher Nua", de Gilka Machado. outra travessia, 2(36), 144-176.
Dias, J. C. T. (2018). Ser mulher: liberação feminina na poesia de Gilka Machado. fólio - Revista de Letras, [S. l.], v. 8, n. 2.
Grando, D., & Maffeis, J. (2022). O mundo necessita de poesia: a lírica e a sociedade na obra de Gilka Machado. Texto Poético, 18(35), 125–141.
Losso, E. G. B. (2022). Pobreza e ousadia em Gilka Machado: uma poesia de corpo, alma e natureza. cadernos pagu, e226405.
Morais, S. Gilka Machado e os (des) caminhos da transgressão. Revista Philologus, 14(2), 1034-41.
Paixão, S. (1995). Gilka Machado e as contradições do seu tempo. Convergência Lusíada, 10(12), 233-236.
Pietrani, A. (2019). Gilka Machado, poeta moderna. Revista Graphos, 21(2), 79-95.
Silveira, S. (2021). A poesia de Gilka Machado e a crítica literária da Belle Époque brasileira. Revista Interdisciplinar de trabalhos sobre a América Latina, (14).
Steffen, A. C. (2019). Gilka Machado e o simbolismo. Revista Garrafa, 17(48), 8-21.