Viagem ao sétimo céu

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Poema de Gilka Machado



Viagem de nossas almas,
galgando alturas,
vencendo longes,
na noite quente
que milhões de luzes
abrasavam ainda mais.

Por entre céus,
subíamos
ao Silvestre;
a cidade,
lá em baixo,
era um céu infernal
e o céu dilatava os olhos
enamoradamente
para as estrelas
que bailavam no abismo.

Que silêncios,
e que ermos,
e que distâncias incomensuráveis
entre nossos destinos!
Nossas almas viajavam
e as mãos afrodisíacas do vento
afagavam as ervas do caminho
e misturavam nossos cabelos.

De súbito,
houve um pasmo de esplendor,
uma ebriez de beleza...
e nossas almas se chocaram
vertiginosamente,
num beijo sem lábios...
- Chegáramos um ao outro.

A cidade estendia
um tapete de sóis
aos nossos pés;
e nos olhares das estrelas
havia vontades longas
de escorregar para a terra;
e em toda a espiritualidade
do infinito
vislumbrei o desejo humano
de se precipitar
sobre o céu novo da cidade
infernalmente iluminada.

E em meus membros senti
uma súbita fuga,
um desagregamento de mim mesma,
uma ânsia de adormecer
nos teus braços
esta velha fadiga de ser alma.




Fonte: "Sublimação", Editora Typo Baptista de Souza, 1938.
Originalmente publicado em: "Sublimação", Editora Typo Baptista de Souza, 1938.


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