Momento supremo

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Poema de Gilka Machado



Fecha minha alma
em tuas mãos morenas,
fecha-me a carne
dentro de tua alma!
Vê se consegues que essas gêmeas
boêmias
incorrigíveis
cheguem à calma extrema,
à extrema inanição!
Esmaga-me a alma
em tuas mãos morenas,
guarda-me inteira no teu coração!

Teu amor é tão bom!
Teu corpo é tão veloso
e tão cheiroso
como um campo florido!

Prende-me, prende-me, Querido,
todo meu ser encerra
num abraço que seja
uma carícia nova,
num abraço absorvente,
assim como o da terra,
assim como o da cova!

Teu amor é tão bom
que não creio que exista
algo de mais perfeito
que a milagrosa hora
que vivemos agora.

Vamos,
sepulta-me em teu peito,
depressa,
antes que chegue a saciedade,
pois momentos assim,
de tão
perfeita comunhão
de espirito e matéria,
devem ter fim
na eternidade!

Teu amor é tão bom
que, deliciada, temo
ir além, meu Amor,
deste instante supremo.

Fujamos à fatal monotonia
de repetir,
de recomeçar:
aqui culmina o céu
e o inferno principia...
mata-me sem pesar,
mata-me que me punge
a angústia estranha
de não haver nascido
uma simples aranha
para te devorar!...




Fonte: "Sublimação", Editora Typo Baptista de Souza, 1938.
Originalmente publicado em: "Sublimação", Editora Typo Baptista de Souza, 1938.