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Poema de Gilka Machado
À langorosa luz que cai da Lua cheia,
como que a despertar, se vai espreguiçando,
na pelúcia da noite, um rumor lento e brando,
que se torce, se estorce, alonga, serpenteia...
E é tão suave esta voz que a Natureza enleia
e os sentidos me toma, e m'os vai amolentando;
creio mesmo fitar de sereias um bando,
pois nesta melodia há ondeios de sereia.
Cada nota que, no ar, molemente flutua,
é um seio nu, é um ventre nu, é a forma nua
das mulheres sensuais de bambas carnes turvas.
E toda languidez, espasmos, elastérios,
esta musica põe nos silêncios etéreos
uma continuidade intérmina de curvas...
Fonte: "Estados de Alma", 1917.
Originalmente publicado em: "Estados de Alma", 1917.