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Poema de Gilka Machado



Pela minha saudade caminheira
que há de te procurar a vida inteira;
por meu silêncio que de sons encheste;
por este
beijo que se ficou, oscilante e impreciso,
nos meus lábios suspenso, a vibrar como um guiso;
pela esperança desesperada
que em esgalhos de dor se abre na estrada
da minha vida;
pela desilusão que eu conservo iludida;
por minha solidão que povoas de aroma;
pela vertigem que os meus membros toma;
pela alma que te espera em meus olhos, de bruços;
pelos olhos em que te fecho em mim;
pelos meus prantos; pelos meus soluços;
pelos meus brados;
pelo festim
das minhas dores, quando o teu vulto me assoma;
pelos meus pobres sonhos despertados
- sonhos da minha insônia em ti pensando;
pelo olhar que se estende e me procura,
de tão distante
iluminando a minha noute escura;
pelo olhar envolvente e penetrante
que eu sinto, a cada instante...
pelas mãos com que me acenas,
de longe, quando em quando;
pelos escolhos, pelas penas
que eu sofro sem sentir, as tuas mãos buscando;
pelos fluídicos carinhos
que andam passando pelos caminhos
do meu ser;
por meu intérmino querer
a ti, senhor das minhas agonias!
Todas as noites, todos os dias,
conservarei vivas, acesas,
minhas constantes fantasias.

Vida que me persegues, que eu persigo,
eu te bendigo, Amor, eu te bendigo!

Curvo-me a ti, num culto singular,
pelo sabor de todas as tristezas
que me deste a provar.



Fonte: "Estados de Alma", 1917.
Originalmente publicado em: "Estados de Alma", 1917.


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