Sândalo
Poema de Gilka Machado
Quente, esdrúxulo, ativo, emocional, intenso,
o sândalo espirala, o espaço ganha, berra...
e eu, que sofrega o sorvo em longos haustos, penso
ser ele a emanação da volúpia da Terra.
Odor que o sangue inflama e que um desejo imenso
de prazeres sensuais em nossas almas ferra,
quer perfume o brancor de um rendilhado lenço,
quer percorra, a cantar, as brenhas, o ermo, a serra.
Quando o aspiro a embriaguez em mim se manifesta,
e ébria do amor transponho a virential floresta,
onde a Luxúria, como uma serpente, assoma...
Ha rumores marciais, sangrentos, agressores,
de trompas, de clarins, cornetas e tambores,
na forte exalação deste infernal aroma.
Fonte: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.
Originalmente publicado em: "Cristais Partidos", Gráfica Revista dos Tribunais, 1915.