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Poema de Gilka Machado



Há lá por fora
um luar
que é um divino pecado...
Se viesses, meu amado,
se surgisses agora ao meu olhar,
se me apertasses, trêmula de susto, ao teu formoso busto...

Paira lá fora o luar
a tentar a paisagem,
as almas a tentar;
Se viesses, meu selvagem,
com teu querer imperativo e rudo, com teus modos brutais,
a esta lua macia,
eu tudo
te daria
e mais
e muito mais!...

Que seria de mim,
deste meu pobre amor ai! que seria,
se houvesse, noite a noite, um luar assim?
Repara o encantamento
da dor a que te exponho e a que me imponho,
neste mútuo querer de intérmino adiamento.
Gozemos ambos o prazer tristonho,
a ventura dolorida
de prolongar o sonho, que há no sonho
a realidade mais feliz da vida.

A lua desce numa poeira fina
que os seres todos alucina,
que não sei bem se é cocaína
ou luar...

Fosse eu agora para a rua,
assim, tonta de lua...



Fonte: "Meu glorioso pecado", Almeida Torres & C, 1928.
Originalmente publicado em: "Meu glorioso pecado", Almeida Torres & C, 1928.



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