Platonismo

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Poema de Gilka Machado



Para que deste amor nunca a memória laves,
vivamos sempre assim, à distância sujeitos,
tu - ignorando sempre os meus defeitos graves,
eu - ignorando sempre os teus leves defeitos.

Como duas iguais e extraordinárias naves,
irão, rumo do azul, nossas almas de eleitos,
ambas vogando sobre os mesmos sonhos suaves,
ao desejo que as move e inflama nossos peitos.

Dia a dia entre nós mais a distância aumento
para que aquele ideal tanto tempo sonhado
não vejamos fugir num rápido momento;

e sintamos, então, imóveis, lado a lado,
essa náusea, esse tédio, esse aniquilamento
que vem sempre depois de um desejo saciado.




Fonte: "Velha poesia", Tipografia Baptista de Souza, 1965.
Originalmente publicado em: "Velha poesia", Tipografia Baptista de Souza, 1965.