Pixinguinha
Pixinguinha
Pixinguinha, instrumentista, arranjador e compositor, foi um o mais importante representante do Choro. Junto aos músicos de sua geração, contribuiu decisivamente para a trajetória musical do país.
Biografia
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1897, décimo segundo de catorze irmãos de uma família de classe média baixa. O pai era funcionário da usina de eletricidade da repartição geral dos telégrafos e flautista amador. Pixinguinha passou a primeira infância no bairro do Catumbi, onde a família morava num casarão conhecido como 'Pensão Viana', em que hospedavam pessoas em apuros financeiros e organizavam rodas de choro. Frequentavam o ambiente doméstico inúmeros músicos cariocas, inclusive o jovem Villa-Lobos, tocando violão. Ainda criança, Pixinguinha tomou aulas de cavaquinho e teoria musical com um amigo do pai. Aos 11 anos, já acompanhava o pai nos bailes realizados em casa pela família. Depois trocou o cavaquinho pela flauta, tendo como professor Irineu de Almeida, compositor e instrumentista da banda do Corpo de Bombeiros. Com cerca de 14 anos, Pixinguinha iniciou a carreira profissional na música, tocando em casas de chope e cabarés da cidade. Era 1911, ano em que também entrou para o 'Grupo Choro Carioca', realizando as primeiras gravações de disco. Até 1935, em solo ou conjunto, participaria de 35 gravações. Em 1912, estreou temporariamente no 'Grupo Chiquinha Gonzaga', tocando flauta no teatro Rio Branco, substituindo um músico doente. Composições suas foram gravadas em disco em 1913 e 1914, sendo neste último ano editada em partitura sua primeira música. Pixinguinha comporia centenas de músicas ao longo da carreira, mas a tarefa de identificar sua obra completa se tornou impossível, pois muitas ele vendeu junto com o direito de autoria, muitas não se editaram em partitura, outras permaneceram inéditas. Em 1919, o gerente do Cine Palais solicitou a criação de um grupo com o objetivo de atrair público para os filmes. Naquela época, os cinemas cariocas contavam com duas bandas: uma no interior da sala de projeção, musicando os filmes mudos, e outra na entrada, para entreter os frequentadores antes da sessão iniciar. Com Pixinguinha, Donga e outros músicos, formou-se o grupo 'Oito Batutas', remanescentes do 'Grupo Caxangá', bloco carnavalesco que desfilou entre 1914 e 1919, quando do sucesso da embolada, ritmo nordestino, na festa carioca. O repertório do 'Oito Batutas' se destacava pelos ritmos 'sertanejos', de música caipira ou folclórica, incluindo maxixes, lundus, emboladas, batuques, cateretês. Os músicos se apresentavam em trajes nordestinos. Sob o patrocínio de um dos homens mais ricos do Rio de Janeiro, o grupo realizou uma excursão por São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, em que Pixinguinha foi incumbindo de registrar em partitura inúmeras música folclóricas. Sob o mesmo patrocínio, embarcaram, em 1922, para Paris, onde tomaram contato com o jazz. O grupo incorporou novos instrumentos e ritmos, apresentando-se de terno escuro. Apresentaram-se na Argentina no ano seguinte, quando, por desentendimentos internos, o grupo se desmembrou. O surgimento de fitas acompanhadas de sonorização mecânica, no meio dessa década, levou a uma grande retração no mercado de trabalho dos músicos populares cariocas. Pixinguinha começou a trabalhar como arranjador na indústria fonográfica em 1928, dirigindo a 'Orquesta Típica Oito Batutas'. No mesmo ano, assumiu a direção e os arranjos da 'Orquestra Típica Pixinguinha-Donga', na Parlophon. Em 1929, Pixinguinha foi contratado como regente de orquestra e arranjador pela gravadora Victor, atuando junto a quatro orquestras com repertórios diferentes. Realizava gravacões de músicas própria, tocava no teatro de revista, em clubes noturnos, além de trabalhar em rádios. Seus maiores sucessos viriam entre 1931 e 1933, através do 'Grupo da Velha Guarda', que gravaria dezenas de sambas e marchas, além de gêneros de matriz africana. Em 1932, formou-se em harmonia elementar pelo Instituto Nacional da Música. Entrou para o serviço público em 1933, nomeado como fiscal da Limpeza Urbana do Rio de Janeiro. Conseguiu transferência para atuar como escriturário, cumprindo em seguinda diversas funções burocráticas. Em 1934, Pixinguinha começou a trabalhar também para a gravadora Columbia, acompanhando com sua banda a grandes cantores da época. A partir do final da década de 1930 e na década de 1940, mudanças na indústria musical e no consumo de música levaram ao gradual afastamento de Pixinguinha das gravadoras. Entre 1946 e 1951, em parceria com Benedito Lacerda, a quem vendeu os direitos de diversas composições, formou uma dupla de sucesso em que tocava o saxofone. Integrou o programa de rádio 'Pessoal da Velha Guarda' em 1946, voltado ao 'resgate da memória' de músicas consideradas antigas - Pixinguinha ainda nem completara 50 anos. Na década de 1950, foi promovido a professor municipal, dando aula de música, cargo no qual iria se aposentar. Ainda gravou vários discos, bem como contribuiu com outros intérpretes. Pixinguinha passou os últimos anos de vida no bairro de Ramos. Faleceu em 1973, enquanto participava de um batismo na igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.
Obras
Zé Barbino | Pé de mulata | Mulato bonito | Implorar | Ai, eu queria | Gavião calçudo | Por você fiz o que pude | Yaô | Você não deve beber | Vi o pombo gemê | Um samba na areia | Teu nome | Saudade de Pierrô | Samba de nego | Patrão, prenda seu gado | Os home implica comigo | Onde foi Isabé | O malhador | No terreiro de Alibibi | Mulata baiana | Maria Conga | Já te digo | Já andei | Festa de branco | Eu sou gozado assim | Carnavá taí | As vitaminas
Para consultar
Outras informações sobre Pixinguinha estão no IMS - Pixinguinha.
Estudos relacionados à Pixinguinha:
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