O morto - Murilo Mendes
Poema de Murilo Mendes
Rua de monstros floridos,
Sentem-se os passos do mar.
A carruagem de sombra
Há pouco virou na curva.
Batem à porta de magnólias,
Arfando interrogam anéis,
Cartas, álbuns, a parede.
Enigma! Sapatos frios.
O morto carregou tudo,
Deixando despojos vãos
Para os filhos repartirem.
O morto não lhes revela
O segredo, a forma, o sonho
Que inventou durante a vida.
Fonte: "Poesia completa e prosa", Nova Aguilar, 1994.
Originalmente publicado em: "Poesias", J. Olympio, 1959.
