Retrato 6º de Filena - Alvarenga Peixoto

Alvarenga Peixoto - poeta do Arcadismo brasileiro

Poema de Alvarenga Peixoto



Oh quem pudera escapar-se,
Formosa Filena, oh quem
Das prisões, que os teus cabelos
Tecido à minh’alma têm.
Oh quem quebrara as cadeias,
Oh quem mil vezes, oh quem!

Quem evitara os reflexos,
Que da clara testa vêm,
Deixara de ficar cego
Da Vista, e razão também
Oh quem antes te não vira
Formosa Filena, oh quem!

Vendo os teus formosos olhos,
Linda Filena, Ninguém
Escapou ainda das armas
Que ao travesso Amor convêm.
Oh quem curara as feridas,
Se podem Curar-se, oh quem!

Das flores das tuas faces
Em confusa tropa vêm
Chupar o Mel as Abelhas
Oh quem viera também.
Oh quem já que por ti morre
Morrerá Contente, oh quem!

Na tua boca Mimosa
Cupido que te quer bem
Fechados, como em tesoiro
Todos os desejos tem.
Oh quem pudera roubá-lo
Por mais que chorasse, oh quem!

Oh quem no teu branco peito,
Formosa Filena, oh quem
Reprimira uns matadores
Alentos, que vão, e vem
Oh quem fora tão ditoso,
Que a tanto chegasse, oh quem!

Embaraça o teu respeito,
Que não passem mais além
Uns desejos que esquadrinham
Tudo o que os olhos não veem.
Oh quem em vez de pensá-lo
Pudera gozá-lo, oh quem!




Fonte: "Obras Poéticas de Alvarenga Peixoto", Ateliê Editorial, 2020.
Originalmente publicado em: dispersos em obras como "Parnaso Brasileiro", "Novo Parnaso Brasileiro", "Miscelânea Poética", "Jornal Poético" e "Coleção de poesias", entre 1809 e 1855.