Retrato 3º de Josina - Alvarenga Peixoto
Poema de Alvarenga Peixoto
Doce Lisonja
Não, não me obriga,
Nem faz que eu diga
Paixão de Amor.
Não pinto Ninfa
Nem Divindade
Dê-me a Verdade
O seu favor.
Os que julgarem,
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor.
Os seus Cabelos
De seda fios
Dão novos brios
A qualquer flor
Presos por fitas
De prata, e de ouro
Todo o tesouro
Perde o valor.
Os que julgarem
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor.
Os belos olhos
D’Alma janelas
Não têm de Estrelas
O Resplendor.
Mas sem falarem
Dizem com Graça
Quanto se passa
No interior.
Os que julgarem
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor.
As duas faces,
Belas, mimosas
Jasmins, e Rosas
Não têm na cor:
Mas a cor delas
Que a Rosa inveja
Não sei qual seja,
Sei que é melhor.
Os que julgarem
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor.
Pintar-lhe a boca
Far-me-ia louco
Corais é pouco
Rubins pior.
Saiba-se a Causa
Pelos efeitos
Sintam-na os peitos
Centro de ardor.
Os que julgarem
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor.
Ávidas vistas
Caem sinceras
Sobre as Esferas
Que move o Amor.
Que a defendê-las,
Apercebidos
Andam Cupidos
Sempre ao redor.
Os que julgarem
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor.
Do mais que encobre
Tela decente
Ninguém intente
Ser sabedor.
Só dos pés saiba,
Que aonde os assenta
Logo rebentam
A Fonte e a Flor.
Os que julgarem
Que a tinta é fina.
Vejam Josina
Falem depois,
Que isto é Retrato,
Eu sou Pintor
Fonte: "Obras Poéticas de Alvarenga Peixoto", Ateliê Editorial, 2020.
Originalmente publicado em: dispersos em obras como "Parnaso Brasileiro", "Novo Parnaso Brasileiro", "Miscelânea Poética", "Jornal Poético" e "Coleção de poesias", entre 1809 e 1855.