Retrato 1º de Armânia - Alvarenga Peixoto

Alvarenga Peixoto - poeta do Arcadismo brasileiro

Poema de Alvarenga Peixoto



Armânia Bela,
Gentil Pastora:
Ah!... Quem te adora
Mil razões tem.
Assim tu foras
Menos ingrata:
Quem te retrata
Conhece-o bem.
Eu pinto as cores
Dirão de quem.

Os teus cabelos
Não são tesouros
Dos metais louros
Do rico Ofir.
Mas são da maça
Do sol irado
Quando abrasado
Toca o Zenith.
Eu fiquei cego
Logo que os vi.

Pintou-te a testa
Tétis formosa
Vindo raivosa
Desembarcar.
Segues os passos
Com maravilha
Da Linda Filha
Do bravo Mar.
Temei Amantes
De naufragar.

No lindo rosto,
Por olhos giras
Duas safiras
De preço tal:
Que o Céu, e a Terra,
Flores, e Estrelas
Não têm, que a Elas
Possa igualar.
Astros que influem
Todo o meu mal.

Brancas Mosquetas
Vermelhas Rosas
Sobre as mimosas
Faces trazeis.
Mas disfarçando
Ternos carinhos
Cruéis espinhos
Falsa escondeis.
Traidoras armas
Com que ofendeis.

Pérolas finas
Encastoadas
Entre Granadas
Na boca unis:
Portas do Cofre
De tais riquezas
Brasas acesas
Falando abris.
Tristes Amantes
Vós o sentis.

Fino Alabastro
De mancha ileso
Sustenta o peso
De tanto Céu
Descobre as veias
Por mais beleza
Da natureza
O sutil véu.
Ímpio tais Dotes
Amor te deu.

Crescem no peito
Dois aposentos
C’os movimentos
Do respirar
Onde Amor mora
E os Cruéis Zelos:
Quem pode vê-los
Sem os amar.
De Amor as setas
Lá vão quebrar.

Só na cintura
Por delicada
Não tenho nada
Que retratar.
E os pés por breves
Nem falo neles,
Quero por eles
Mudo passar.
Quantos te virem
Te hão de adorar.




Fonte: "Obras Poéticas de Alvarenga Peixoto", Ateliê Editorial, 2020.
Originalmente publicado em: dispersos em obras como "Parnaso Brasileiro", "Novo Parnaso Brasileiro", "Miscelânea Poética", "Jornal Poético" e "Coleção de poesias", entre 1809 e 1855.