Poema IX, Canto Quinto
Poema de Jorge de Lima
Os soluços da noite procuraram
a garganta das coisas
e falaram.
Eram nomes de musas e de seres
que surgiam dos hálitos
encarnados.
Com as palavras nasciam rumos, sombras,
movimentos, impulsos,
novos ares.
Era noite compacta, era um passado,
eram uns confins, uns ômegas
e uns inícios.
Eram uns tempos grávidos de nomes,
era um rumor de apelos
e de dádivas.
Era um poema nascendo, era um mistério,
era um novo pecado
se movendo.
Era uma noite; e as cobras se enlaçavam
destronadas; e um mundo
se paria.
se paria.
Os impulsos da noite procuraram
desafios, orgulhos,
subversões.
Houve um homem correndo atrás daquilo,
entre as horas e o espaço
que fugiam.
que fugiam.
Houve recuos às noites acabadas,
a memórias, paraísos,
orfandades.
Houve o hoje, houve o amanhã, houve um delírio,
através das estâncias e dos tropos,
através
através
dos abismos, dos versos, dos clamores
e das vozes ouvidas, ontem, hoje
e amanhã;
e houve a agonia e o suor de sangue e o lento
suicídio certo, lúcido, infléxível
como o inferno.
Fonte: "Invenção de Orfeu", Tecnoprint Gráfica, 1967.
Originalmente publicado em: "Invenção de Orfeu", Livros de Portugal S. A, 1952.
como o inferno.
Fonte: "Invenção de Orfeu", Tecnoprint Gráfica, 1967.
Originalmente publicado em: "Invenção de Orfeu", Livros de Portugal S. A, 1952.