Poema IX, Canto Primeiro
Poema de Jorge de Lima
Há umas coisas parindo, ninguém sabe
em que leito, em que chuvas, em que mês.
Coisas aparecidas. Céus morados.
As presenças destilam. Chamam de onde?
Em que útero fundo este ovo cabe,
no regaço alcançado em que te vês?
A porta aberta, os vales saturados,
e um gemido bivalve que se esconde.
Fios para as aranhas orvalhadas.
Rosas florindo pêlos. Graves molhos
mugidos sob as órbitas dos bois.
Há apelos nas pelejas procuradas
na multiplicidade de cem olhos
refletidos na espreita. Choram dois.
Fonte: "Invenção de Orfeu", Tecnoprint Gráfica, 1967.
Originalmente publicado em: "Invenção de Orfeu", Livros de Portugal S. A, 1952.