Poema II, Canto Segundo
Poema de Jorge de Lima
Dentro do solo impossível,
do possível supersolo,
ou das corolas lunadas,
sempre foste a imaginada
que na face nunca imóvel
acenas lenço constante.
Contra muralhas, as unhas
gastei-as cavando os nomes
com que sempre te insculpiste
- inconstância e persistência,
ré de amor e testemunha,
pólen da vida perdida,
nau de luzes apagadas.
Ó suma clarividência
procurada em campo móvel,
soledade acumulada,
vens e não vens clara vida,
hoje seta desgarrada,
amanha chorado abril,
e depois nina encantada
em céus de terras passadas.
Fonte: "Invenção de Orfeu", Tecnoprint Gráfica, 1967.
Originalmente publicado em: "Invenção de Orfeu", Livros de Portugal S. A, 1952.