Lembrança


Poema de Augusto Frederico Schmidt



Todos os que estão neste cinema agora,
neste cinema alegre,
um dia hão de morrer também:
nos cabides as roupas dos mortos
penderão tristemente.

Os olhos de todos os que assistem
as fitas agora,
se fecharão um dia trágica e dolorosamente.
E todos os homens medíocres
se elevarão no mistério doloroso da morte.
Todos um dia partirão -
mesmo os que têm mais apego às coisas do mundo:
os abastados e risonhos
os estáveis na vida
os namorados felizes
As crianças que procuram compreender -
Todos hão de derramar a última lágrima.

No entanto parece que os freqüentadores deste cinema
estão perfeitamente deslembrados de que terão de morrer
- porque em toda a sala escura há um grande ritmo de esquecimento e equilíbrio.




Fonte: “Poesia completa: 1928-1965”, 1995.