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Poema de Augusto Frederico Schmidt



Como outrora - ouvi o ruído de portas
Se abrindo e uma voz debruçar-se
Sobre o sono.
Quem era, quem me acordava, assim
No centro do sono, no abismo do sono?

Seria Ismênia, cansada de esperar
No túmulo,
Cansada do esquecimento?

Seria Matilde, que se decidia
Depois do desdém, da recusa
E do abandono?

A voz me afastou do sono,
A voz me fez subir de repente
Do sono
Como de um poço.

Seria Lídia, essa que não amei e cantava,
Os braços robustos me enlaçando
E o corpo de planta?

Não sei; mais foi uma voz súbita
Como um vento fresco.
Uma voz acordando ecos
De outras e antigas vozes.
Uma voz, de repente, brincando.
Uma voz conhecida
E não ouvida longamente.
Uma voz olhando,
Uma voz sacudindo,
Uma voz úmida
Abrindo portas,
As portas de um mundo desaparecido.




Fonte: “Poesia completa: 1928-1965”, 1995.