Batuque na cozinha

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Poema de João da Baiana



Não moro em casa de cômodo,
não é por ter medo não.
Na cozinha muita gente
Sempre tem alteração.

Batuque na cozinha, sinhá não quer.
Por causa do batuque eu queimei meu pé.

Então não bula na cumbuca,
não me espante o rato.
Se o branco tem ciúme, que dirá o mulato.

Eu fui na cozinha pra vê uma cebola,
e o branco com ciúme de uma tal crioula.
Deixei a cebola, peguei na batata,
e o branco com ciúme de uma tal mulata.
Peguei no balaio pra medir a farinha,
e o branco com ciúme de uma tal branquinha.

Voltei na cozinha pra tomar um café,
malandro tá com o olho na minha mulher.
Mas, comigo, eu apelei para a desarmonia,
e fomos direto para a delegacia.

Seu comissário foi dizendo, com altivez,
'é da casa de cômodo da tal Inês.
Revista os dois, bota no xadrez,
malandro comigo não tem vez'.

Mas, seu comissário, eu estou com a razão.
Eu não moro na casa de arrumação.
Eu fui apanhar meu violão
que estava empenhado com Salomão.

Eu pago a fiança com satisfação.
Mas não me bota no xadrez com esse malandrão
que faltou com respeito ao cidadão
da Paraíba do Norte, Maranhão.




Fonte: "Acervo Digital Pixinguinha", 2023.
Originalmente publicado em: disco Odeon MOFB 3527, 1968.