Vinte e nove bichos - Mário de Andrade

Mário de Andrade, poeta da primeira geraçao do modernismo brasileiro

Poema de Mário de Andrade



No meu enorme corpo fatigado,
Todo mole com as almofadas,
Você se aninha sem beijar.

Estou sem forças feito um caos.
Você é uma via-látea errante
Que não desejo mais valorizar.

Paz. A falsa paz vacila disponível
Enquanto à sombra da cheia fruteira
Os bichos se alimentam sem cessar.

Um desespero me arde, eu te repilo.
É a arraiada que vem, é o sol imundo
Que vai mostrar a bicharada
Aos emboléus, vinda do caos.




Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Poesias", 1941.
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