Toada do Pai-do-Mato


Poema de Mário de Andrade



A moça Camalalô
Foi no mato colher fruta.
A manhã fresca de orvalho
Era quase noturna.
- Ah...
Era quase noturna...

Num galho de tarumã
Estava um homem cantando.
A moça sai do caminho
Pra escutar o canto.
- Ah...
Ela escuta o canto...

Enganada pelo escuro
Camalalô fala pro homem:
Ariti, me dá uma fruta
Que eu estou com fome.
- Ah...
Estava com fome...

O homem rindo secundou:
- Zuimaalúti se engana,
Pensa que sou ariti?
Eu sou Pai-do-Mato.

Era o Pai-do-Mato!




Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Clã do jabuti", 1927.