Soneto do homem morto
Poema de Mário de Andrade
Paragens do Homem Morto... Fantasia
Da natureza livre a imaginar,
Mar de ondas paralíticas que um dia
A terra ergueu para imitar o mar...
Stadiums suspensos onde a ventania
Vence no steeple-chase a luz solar
E em que os pinheiros da melancolia
Boxam com luvas de cem onças no ar...
Paragens do Homem Morto... Os elementos
Sambam nos morros sobre os quais a lua
Chocalha crebra feito um maracá...
Vida dos meus sentidos sonolentos!
Vida do corpo, primitiva, nua,
Paragens do Homem Morto... viver lá!
Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Clã do jabuti", 1927.