Rondó do tempo presente
Poema de Mário de Andrade
Noite de music-hall...
Não, faz sol. É meio-dia.
Hora das fábricas estufadas digerindo.
A rua elástica estica-se tal qual clown desengonçado
Farfalhando neblinas irônicas paulistas.
O Sol nem se reconhece mais de empoado
Ver padeiro que a gente encontra manhãzinha
Quando das farras vai na padaria comer pão.
Noite de music-hall...
Cantoras bem pernudas.
O olhar piscapisca dos homens aplaudindo.
Como se canta bem nas ruas de S. Paulo!
O passadista se enganou.
Não era desafinação
Era pluritonalidade moderníssima.
Em seguida o imitador,
Tenores bolchevistas,
Tarantelas do Fascio...
Ibsen! Ibsen!
Peer Gynt vai pro escritório
Com o rubim falso na unha legítima.
Empregados públicos virginais
Deslumbrados com o jazz dos automóveis.
Os cadetes mexicanos marcham que nem cavalos ensinados,
Está repleto o music-hall!
Mulheres-da-vida perfiladas nas frisas.
- Olhar à direita!
- Olhar à esquerda!
Taratá!
Olhar especula pra todos os lados!
Mas as continências livres do meu chapéu
Não se esperdiçarão mais com galões desconhecidos!
Prefiro mil vezes saudar os curumins!
Os meninos-prodígios caminham século-vinte
Sem esbarrão na confusão da multidão.
Bravíssimo!
Taratá!
Século Broadway de gigolôs, boxistas e pansexualidade!
Que palcos imprevistos!
Programas originais!
Permitido fumar.
Esteja a gosto.
Faz sol.
Com o rubim falso na unha legítima.
Empregados públicos virginais
Deslumbrados com o jazz dos automóveis.
Os cadetes mexicanos marcham que nem cavalos ensinados,
Está repleto o music-hall!
Mulheres-da-vida perfiladas nas frisas.
- Olhar à direita!
- Olhar à esquerda!
Taratá!
Olhar especula pra todos os lados!
Mas as continências livres do meu chapéu
Não se esperdiçarão mais com galões desconhecidos!
Prefiro mil vezes saudar os curumins!
Os meninos-prodígios caminham século-vinte
Sem esbarrão na confusão da multidão.
Bravíssimo!
Taratá!
Século Broadway de gigolôs, boxistas e pansexualidade!
Que palcos imprevistos!
Programas originais!
Permitido fumar.
Esteja a gosto.
Faz sol.
É meio-dia...
Noite de music-hall...
Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Losango caqui", 1926.