Paisagem nº 3 - Mário de Andrade

Mário de Andrade, poeta da primeira geraçao do modernismo brasileiro

Poema de Mário de Andrade



Chove?
Sorri uma garoa cor de cinza,
muito triste, como um tristemente longo...
A casa Kosmos não tem impermeáveis em liquidação...
Mas neste largo do Arouche
posso abrir meu guarda-chuva paradoxal,
este lírico plátano de rendas mar...

Ali em frente... - Mário, põe a máscara!
- Tens razão, minha Loucura, tens razão.
O rei de Tule jogou a taça ao mar...

Os homens passam encharcados...
Os reflexos dos vultos curtos
mancham o petit-pavé...
As rolas da Normal
esvoaçam entre os dedos da garoa...
(E se pusesse um verso de Crisfal
No De Profundis?...)
De repente
um raio de Sol arisco
risca o chuvisco ao meio.




Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Paulicéia desvairada", 1922.
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