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Poema de Mário de Andrade



Manhã veraneja, manhã que dá sustância,
Toda lisa sem nuvens
               sem cuidados
                         cansaços...
Adiante o morro sacode o ombro indiferente.

Curiosidade de viver!

Cadência bem batida, regular.
Porém o sargento embirrou com o alinhamento das armas.
“- Alinhem essas armas, senhores!”

O sargento ignora a influência do sangue latino.
                                                  Impaciência.
                                             Mocidade.
                                        Verso-livre...
                                   Alegria grita em mim.

Curiosidade de viver!

“- Senhores, as armas!”
               ...e os barões assinalados
               Que da ocidental praia lusitana...

Marco a cadência com versos de Camões.

Ineses fugitivas nas janelas e portas.
Amo todas as moças brancaranas ou louras
E a manhã despenteando nos telhados seus cabelos fogaréu...

Curiosidade de viver!

Sargento Vitoriano,
Sapeque o seu jamegão latino
Nesta desalinhada Companhia brasileira!




Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Losango caqui", 1926.