Flamingo
Poema de Mário de Andrade
Rígido a levantar no blau a flama rósea,
Flamingo... Além na sombra o mistério de Flandres...
Sinos de coros polifônicos se expandem
Em cinza, em amplidão nítida e crua ardósia.
Quimera viva! Vlan! Lança pelo infinito
O bico em curva e o voo arca sobre o deserto.
Desce no areal. Heraldo o alto perfil inquieto
Real... E a ridiculez do passo de Carlito.
Passam autos. Mulheres vão e vêm. Dengosa
A tarde grande bate as asas do flamingo.
Marés-altas de luxo. E o Flamengo domingo
Abre nos céus o que não tem no Rio: rosas!...
Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Losango caqui", 1926.