Sete poemas de Maria de Póvoas - trecho III
Poema de Myriam Fraga
III
Maria de Póvoas,
Maria dos Povos,
Maria, alma ardente
E as mãos tão vazias...
Maria dos Povos,
Maria, alma ardente
E as mãos tão vazias...
Que vida enganosa
A tua, Maria,
Tecendo as esperas,
Somando as partilhas,
O sexo em chamas
E a fala macia.
Maria... a cinza na testa,
A oração na madrugada,
Maria, um lobo na espreita,
Um verso como cilada,
O amor é como veneno,
Como sombra na calçada,
Assombração que faz medo.
Maria, é só um poeta
Caminhando pela estrada,
E a noite esconde o segredo
De tua pele alvoroçada,
De tua língua, de seus dedos...
Somente um poeta
E a chama
Que te confunde e reclama
O ontem já tão distante...
Tantos dias, longos anos,
Maria, tanto abandono,
Somente o vento nas folhas
E no peito... desenganos.
Fonte: "Poesia reunida", Oiti, 2021.
Originalmente publicado em: "Femina", Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996.