Portuguesa
Triste... Por quê? Não sei. Alguma essência
que às vezes fica na alma humana presa
passou pelos seus olhos com certeza,
como sonâmbula fosforescência.
A dor secreta de uma longa ausência
destilou-lhe essa íntima tristeza.
Sozinha em sua estranha natureza,
vive o seu mundo de reminiscência.
Quando ela canta em morna melodia,
seus grandes olhos choram de verdade.
Traz todo Portugal na voz macia.
Sonham distâncias, solidões tranquilas,
seus olhos machucados de saudade,
com mistérios no fundo das pupilas.
Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Putirum: poesia e coisas de folclore", Leitura, 1969.