Dona Chica
Poema de Raul Bopp
A negra serviu o café.
- A sua escrava tem uns dentes bonitos dona Chica.
- Ah o senhor acha?
Ao sair
a negra demorou-se com um sorriso na porta da varanda.
Foi entoando uma cantiga casa-a-dentro:
Ai do céu caiu um galho
Bateu no chão. Desfolhou.
Dona Chica não disse nada.
Acendeu ódios no olhar.
Foi lá dentro. Pegou a negra.
Mandou metê-la no tronco.
- Iaiá Chica não me mate!
- Ah! Desta vez tu me pagas.
Meteu um trapo na boca.
Depois
quebrou os dentes dela com um martelo.
- Agora
junte esses cacos numa salva de prata
e leve assim mesmo,
babando sangue,
pr’aquele moço que está na sala, peste!
Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Urucungo", Ariel, 1932.