Caratateua - Raul Bopp

Raul Bopp, poeta da segunda geração do modernismo brasileiro, autor de "Cobra Norato"..

Poema de Raul Bopp



Na praça. De tarde. Há batuque. Tambores.
Domingo de festa de São Benedito.
O sol se mistura com um sorriso na alegria de Caratateua
toda engravatada de bandeirolinhas.

Na boca do mato de pouco em pouco espoucam foguetes.
Vem chegando a procissão com o santo no andor enfeitado de fitas.
Num passo grave desfilam as velhas de olhos lúgubres,
conversando com Deus:
... não nos deixeis cair em tentação Amém.

                     Ó São Benedito
                     Louvado sejais.
                     Per seculo seculorum
                     Em nome de Deus. Amém.

Na velha capela da praça bate o sino:

Quem dá, dá. Quem não dá, não tem nada o que dá.
Quem dá, dá. Quem não dá, não tem nada o que dá.

Abrem-se alas em confusão
pro recebimento do santo que vem de viagem.
Vem à frente o sacristão
Não me empurre
Descurpe
É domingo de festa. Ronca a puíta. O sino bate:
Quem dá, dá. Quem não dá, não tem nada o que dá.




Fonte: "Poesia completa de Raul Bopp", José Olympio Editora, 2014.
Originalmente publicado em: "Urucungo", Ariel, 1932.