Queda
Poema de Olga Savary
Negro crepúsculo mergulhou em meu avesso
e na goela de minhas tempestades
o pó de meus céus de vidro veio ao chão.
O tempo? Findo; só meu silêncio é o pêndulo
- compasso de minhas contradições.
Desenhei com cuidada distância
no olho fechado do tempo meu esperar de nada
mas mesmo para o quase nenhum esperar de nada
só haverá a esterilidade muda das poças d’água.
Fui castigada com a impossibilidade de meus voos
e da antiga competência de minhas asas, nada.
Mas não há revolta. Fico então resgatada
com meu prazer amargo de existir não existindo
- tudo é remorso.
Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Espelho Provisório", José Olympio, 1970.