Nau Sra. da Vitória ou a morte do Bângala
Poema de Myriam Fraga
Cavaleiro do mar
Meu destino de verdes
Cumpri.
Submerso e noturno
Capitão de afogados.
Minha espada de espuma
Cinjo.
A couraça de nácar,
O elmo de sargaços,
Às órbitas corroídas
A viseira baixando.
Navego no imponderável
Silêncio das águas calmas.
Latifúndio de sal
Minha lavoura de esponjas,
Onde eu, senhor feudal,
Colho apenas remorso.
Navego no imponderável
Silêncio da sombra verde.
Regresso ao ventre do escuro,
Reclino a fronte e contemplo
Os meus dedos descarnados,
As unhas se desprendendo,
Rosadas conchas salgadas.
Meu corpo imóvel, navegável.
Fonte: "Poesia reunida", Oiti, 2021.
Originalmente publicado em: "Sesmarias", Imprensa Oficial da Bahia, 1969.