Cantilena em setembro

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Poema de Olga Savary



E embora eu não quisesse
essa vontade estranha me anulou,
me fez somente desejo de sair
contigo pelo ar (na distância
uma cidade de pedra nos chamava),
te castigar de toda memória,
fugir com toda memória que trouxesses
e nela te guardar como coisa secreta
nunca revelada.
E de roer pacientemente
como fera verde teu passado
sem outro medo que o prolongamento
dessa impossível febre que me perturbara;
e por isso mesmo
depois de devastado embalar
teu sono de criança numa ilha
que a gente imagina e desenha no ar
ou nas ondas, e saber ficar
tão de manso como flor pisada
ou passarinho morto à pedrada
na beira do caminho.




Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Espelho Provisório", José Olympio, 1970.