A carta

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Poema de Olga Savary



Perdem-se, num longo sono de espera
olhos cansados de mil anos perdem-se.

As palavras circulam pelas praças,
vêm nos jornais, nos telegramas, na memória.
Mas perto
o silêncio empoeirou-se à toda volta.

As palavras esperadas, onde?
As palavras não existem.
O que existe é só a espera delas.

Na estrada, a lua envelhecendo.
E os olhos fincam a noite para ver
além da noite ruínas de um mistério:
o silêncio.




Fonte: "Repertório selvagem - obra reunida", Biblioteca Nacional/ Multi Mais/ Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
Originalmente publicado em: "Espelho Provisório", José Olympio, 1970.