Trovas

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Poema de José Albano



Tudo que eu tinha, perdi
E já não sei o que faça,
Se hei de viver na desgraça
Longe, tão longe de ti.

A esperança já morreu,
O Amor é quase acabado,
Do sonho do meu passado
Não me ficou senão eu.

Eu só, porque o meu pesar
Já me deixou livre e isento
E perdi co’o sofrimento
O consolo de chorar.

E às vezes lembrando estou
O meu primeiro desejo
Que num dia malfazejo,
Abrindo as asas, voou.

E breve tempo depois
Chorei como ninguém chora,
Quando vós fostes embora,
Ilusões que já não sois.

De vós me eu não queixo enfim,
Nem de Amor, nem da Ventura,
Senão da Tristeza escura
Que eu amava mais que a mim.

E em vão quero os olhos pôr
No que nunca mais se alcança;
Muitos perdem a esperança,
Mas eu só perdi a dor.

Eu já me não queixarei.
Porém se tu andas triste,
Se tu nunca mais te riste,
Ai que eu nunca mais chorei.




Fonte: "Rimas de José Albano", Pongetti, 1948.
Originalmente publicado em: "Rimas - Redondilhas; Rimas - Alegoria, Canção a Camões, Ode à Língua Portuguesa", Oficinas de Fidel Giró, 1912.
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